Como eu venci a minha timidez (Seja menos você e aprenda a lidar com as suas inseguranças)

Eu era uma criança muito tímida.

A memória mais antiga que eu tenho a respeito é de quando eu tinha uns 4 anos.

Meu melhor amigo estava fazendo aniversário.

Eu lembro de ter sido convidado e chegar na casa dele achando que nós passariamos o dia brincando.

Fomos até a casa dele, minha mãe tocou o interfone, a mãe dele nos recebeu e disse que ele estava no fundo da casa, em um quintal que eles tinham. Ao chegar lá, eu travei.

Eu não havia sido o único convidado.

Ele chamou todas as pessoas da sala, seus pais fizeram uma festa. Tinham vários brinquedos, pula pula, carrinho de pipoca. E eu simplesmente não sabia o que fazer.

Voltei pra trás e fiquei sozinho na frente da casa dele, sentado na grama, olhando algumas formigas. Algum tempo depois, uma menina veio me perguntar porque eu não ia brincar com eles, eu estava tão envergonhado que não tive coragem de olhar no rosto dela para responder.

Esse tipo de cena, mais ou menos marcante, se repetiu durante toda a minha infância e adolescência.

Eu lembro de não comprar lanche na cantina da escola porque tinha vergonha da atendente. Não ligava para pedir comida porque não gostava de falar ao telefone. Perdi diversas oportunidades por medo do desconhecido…Os exemplos são incontáveis.

A coragem não é um traço de personalidade natural.

É preciso construí-la intencionalmente.

Ainda hoje, depois de anos trabalhando nisso, o mesmo sentimento de medo e insegurança continua me acompanhando. É como uma outra versão de mim, que eu mantenho o mais fraca e não alimentada possível.

Dizem que dentro de todos nós existem dois lobos. Um bom e um mau. O lobo que vence é o que você alimenta.

E sempre que eu cedo aos meus medos, eu sinto o lobo mau se fortalecendo.

Nesse exato momento, eu estou gravando o Organização Direcionada, um curso de Organização e Produtividade onde o objetivo é ajudar as pessoas a conquistarem as suas metas.

Toda vez que eu sento na frente da câmera, naqueles poucos segundos antes de apertar o “Gravar”, essa outra personalidade susurra no meu ouvido:

”Você não precisa disso, está querendo virar blogueirinho agora?”

“Quem você acha que você é para ensinar algo para alguém?”

“Deixa disso, você não é bom o suficiente. Você é tímido. Fraco. Nunca vai conseguir chegar aonda deseja.”

Aperto o botão e começo a gravar.

É como pular em uma piscina gelada. Seu corpo grita para você não fazer. Mas depois de quase 10 anos entrando nessa piscina, todo dia, você vai entendendo que essa voz é mentirosa. Que você não precisa dar ouvidos para ela.


Frio. Sede. Fome. Doenças. Guerras. Morte. Esse é basicamente o resumo da história da humanidade.

Se pararmos para olhar para como nossos antepassados viviam há milhares ou centenas de anos atrás, esse é o nosso estado natural.

Sentados, em volta de uma fogueira, pensando em como será o dia de amanhã. Pensando que é preciso conseguir comida para a sua mulher grávida que necessita de alimento. Pensando se seu filho mais velho já está pronto para proteger a família da invasão de outras tribos. Se perguntando se aquele pequeno corte na perna do dia anterior irá se transformar em algo mais grave.

Foi dai que saímos.

E não precisamos ir muito longe, enquanto o número de crianças mortas antes do primeiro ano de vida, segundo a Unicef (ONU-IGME) em 2016 foi de 4,2 milhões, em 1950 foi de 14,4 milhões. (Factfulness, p. 141).

De 1980 pra frente, o indíce de pobreza extrema no mundo caiu drasticamente.

Gráfico 1: porcentagem da população mundial na pobreza extrema. Fonte: Banco Mundial

Se podemos estar aqui, sentados dentro de casa, com energia elétrica, exercíto e polícia protegendo as ruas, com o governo e empresas privadas trabalhando juntas para cuidar de toda a infraestrutura básica que precisamos. Internet funcionando e podendo mexer no celular, não foi por que “abundância é o nosso estado natural”.

Muito pelo contrário, existe uma rede incompreensível de pessoas que deram as próprias vidas — figurativa e literalmente — para que possamos estar aqui, hoje, arrogantemente dizendo que “precisamos ser nós mesmos”.

É por isso que ser você mesmo é um péssimo conselho.

Foi justamente nos afastando de nós mesmos que construímos tudo o que está a nossa volta.

Foi nos afastando do estado de caos e ignorância natural do ser humano que construímos a nação mais abundante da história.


Quando falamos de personalidade, o BIG5 é o teste de personalidade mais avançado que existe.

Os 5 traços de personalidade são:

  • Extroversão: Nível de sociabilidade e energia em interações sociais.
  • Neuroticismo: Tendência a experimentar emoções negativas e instabilidade emocional.
  • Amabilidade: Disposição para ser compassivo, cooperativo e prestativo com os outros.
  • Conscienciosidade: Grau de organização, responsabilidade e autodisciplina.
  • Abertura à experiência: Disposição para a criatividade, curiosidade e apreciação por novas ideias.

A nossa personalidade pode ser entendida como uma distribuição normal. Onde cada um dos 5 traços é uma distribuição diferente.

Você nasce em algum ponto dela.

Ali é a sua ancôra. É onde, deixado a deriva, você tenderá a voltar.

Mas, todos os pontos da personalidade tem prós e contras.

Por exemplo:

Alto índice de extroversão te faz uma pessoa que toma mais riscos, que é mais positiva.

Por outro lado, é justamente esse tipo de pessoa que morre em esportes radicais, ou que tendem a quebrar endividadas por ter arriscado de mais em um negócio.

Todo traço de personalidade é uma faca de dois gumes.

Por isso, qual a melhor opção? Que você expanda a sua personalidade para que tenha repertório comportamental para lidar com a complexidade da vida.

Precisa ser cauteloso? Você consegue. Precisa ser firme e sustentar sua posição? Você consegue também.

A sua tendendência natural não irá sumir. Mas, assim como a voz que susurra no meu ouvido, você poderá entender que ela não é a realidade. Que ela é uma versão burra de você mesmo.

Parecido com a ideia do filme Uma Mente Brilhante. Onde ele sabe que aquela visão dele é falsa. Você pode vê-la, ouví-la e até entendê-la, mas não é obrigado a escutá-la. As suas decisões são as suas decisões.

Esse é o primeiro passo para alcançar a virtude. A ordenação dos amores, que começa por governar a si mesmo.

Entregue as próprias vontades somos todos animais. Assassinos. Aproveitadores. Mentirosos e egoístas.

A Arte, a virtude, a nobreza, a família, a música…Todos são valores e construções que apontam para além de nós mesmos. Apontam para algo maior e nos lembram de que podemos ser melhores.

Mas, para isso, é necessário deixar de alimentar o lobo mau.

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