O que é que nos diferencia dos animais?
Talvez a primeira resposta que vem à mente da maioria seja “inteligência”, “raciocínio”.
É o que aprendemos na escola.
Mas o que é que deriva dessa inteligência?
Somos racionais o tempo todo e, portanto, superiores (se você me permite usar essa palavra) o tempo todo?
Ou existem momentos onde nos aproximamos dos animais e outros momentos em que nos afastamos deles?
Quando uma pessoa assassina outra para roubar um celular, ela está sendo tão humana quanto um homem que esculpe uma Pietá?
Eu acredito que não.
Somos mais ou menos humanos dependendo das nossas atitudes.
Nosso estado natural é a ignorância e o caos.
E é preciso intencionalidade para sair desse lugar comum.
Por isso, o conselho “seja você mesmo” não é uma boa ideia. Eu diria, até, que vai na contramão da verdade. O conselho que eu te daria é “seja menos você.”
Uma das formas de trabalharmos isso é através de Aspectos de civilidade.
Coisas que nos lembram quem somos.
Uma das cenas mais bonitas do cinema, na minha humilde opinião, é aquela cena enquanto o Titanic afunda e alguns músicos começam a tocar.
Aquela cena é a representação da nossa vida. É a luz na escuridão. Um sopro de vida enfrentando a morte. É um pouco de humanidade em meio ao caos.
Nossa vida pode ser mais vida se buscarmos esses pequenos sopros no nosso dia a dia.
As artes cumprem bem esse papel.
Boa Literatura. Música. Escultura. Quadros.
Eu já rejeitei tudo isso. Principalmente na minha adolescência, lembro de sentir uma certa repulsa por essa “aristocracia”.
Depois, com o passar do tempo, percebi que me tornar mais humano era deixar para trás a mim mesmo.
Que eu deveria negar a mim mesmo (Mt 16:24) e diminuir (João 3:3) para crescer.
É quando nos distanciamos do que é natural que somos mais humanos e menos animais.
Pare pra pensar:
- A monogamia não é natural;
- Saneamento básico não é natural;
- As belas artes não são naturais;
Natural é comer comida crua, nu (ou quase isso), depois de caçar um animal de grande porte por horas.
O trabalho de séculos da nossa civilização foi justamente nos afastar daquilo que era natural.
Roger Scruton vai dizer que o objetivo da arte, por exemplo, é apontar para fora de nós. Para algo superior que nos traz esperança e sussurra aos nossos ouvidos que há bondade no mundo. Que vale a pena lutar por ele.
Aplicação prática
Você não precisa comprar obras de artes famosas para buscar esses pequenos sopros de vida.
Você encontra nas coisas simples e que exigem um pouquinho de esforço no dia a dia.
É arrumar a mesa antes de comer. Estender uma toalha bonita e sem manchas, tirar o pão do saco e colocar em uma travessa, os frios também. Sabe aquelas coisas de mesa posta que as mulheres adoram e os homens acham frescura? Então, elas são importantes.
É organizar a sua mesa de trabalho antes de trabalhar e organizá-la novamente após finalizar. Organize os fios, os papéis, as canetas. Tire o pó da mesa, mantenha o ambiente limpo.
É dormir com a louça limpa.
É dormir limpo.
Os animais não arrumam a cama, não compram flores, não apreciam um pôr do sol.
Você sabe, tem algo que você gostaria de fazer para ter mais ordem, mas que não fez ainda porque tem preguiça. Faça.