Por que somos tão apegados as nossas ideias?

“Você precisa parar de ser uma pessoa instável, está sempre mudando de ideia”

Ouvi de alguém que era muito importante para mim.

A minha primeira reação foi me defender, pensei: “Mudei de opinião porque percebi que estava errado.”

Mas, depois, me questionei: eu estava errado mesmo? não era só instabilidade? Fraqueza? Ou uma ilusão comum que temos ao flertarmos com novas ideias: Será mais fácil dessa outra forma.

Por que nos apegamos às ideias?

A relação do ser humano com o mundo é mais complexa do que parece. Nosso cérebro é uma máquina fantástica e realiza um milagre ao nos manter vivos e interagindo com o mundo a nossa volta.

Cada um de nós vê o mundo de uma forma diferente, faça o teste:

Quando estiver reunido com alguns amigos, peça para todos fecharem os olhos e descreverem o ambiente que estavam vendo antes de fecharem os olhos.

Cada um fará uma descrição diferente.

Porque cada um, literalmente, viu uma realidade diferente.

Isso acontece porque a nossa visão depende de intenção. O processo de percepção visual é tão complexo que se fossemos enxergar tudo nosso cérebro ia explodir. Então, ele seleciona aquilo que é mais relevante e “enxerga” somente aquilo.

Já podemos desculpar o filho/marido que vai procurar algo que está na cara dele, mas ele não vê.


Porque é provável que você esteja errado.

Se enxergar é difícil, lembrar do que enxergamos é mais ainda.

  • Você precisa enxergar,
  • Essa informação precisa ser processada,
  • Armazenada,
  • Recuperada,
  • Interpretada,

São muitos processos e em cada um deles existe a possibilidade de erro. É por isso que nesse exercício, você perceberá que muitos descreverão coisas erradas sobre o ambiente. Nossa memória não é 100% confiável.

Agora, pense comigo, se um exercício tão simples quanto fechar os olhos e descrever o que está a sua frente baseado na sua memória pode se tornar caótico, imagine tomar decisões sobre situações complexas?

Deus existe? O aborto é certo? Quem está correto, a esquerda ou a direita? Como acabar com a fome no mundo? E a desigualdade social? E o conflito entre Israel e Palestina?

A chance de conseguirmos acertar uma resposta dessa, não tendo dedicado anos de estudo ao tema, é praticamente nula.


Porque você muda de opinião.

Um rapaz sofreu um acidente e precisou ter uma parte do seu cérebro removida.

A parte em questão era responsável pelo controle de emoções.

Todos imaginavam que depois dessa remoção o rapaz se tornaria puramente racional, afinal, ele não tem emoções para interferir no processo decisório.

Mas o que eles descobriram ali mudou o mundo para sempre.

Ao se recuperar, analisaram o rapaz tomar decisões. Como esperado, ele pesava com racionalidade os prós e os contras, fazia comparações, eliminava variáveis mas, ao chegar no final do raciocínio, onde só faltava tomar a decisão, ele travava.

Ele não conseguia decidir.

A partir desse dia, um estudo realizado pelo Dr. Antonio Damasio descobriu que o processo de tomada de decisão era emocional, não racional.

Como diz Daniel Khanemann, somos mestres em tomar decisões emocionais e depois criarmos justificativas racionais para justificá-las.

Nós somos tão vulneráveis nesse quesito, que até nossa escolha política é fortemente influenciada por fatores genéticos.

Pessoas que tem um nível de Ordenação maior (Um subtraço da conscienciosidade dentro do modelo de personalidade Big5) tendem a ser mais conservadoras.

Isso só deixa tudo ainda mais complicado.


Porque você deveria mudar de opinião.

Não me entenda errado: não estou dizendo que todas as afirmações têm a mesma validade, ou que a verdade seja subjetiva. O que estou querendo mostrar e defender aqui é que o processo da busca pela verdade é bem mais difícil e complexo do que a maioria dos Twitteiros (X-eiros?) gostaria de admitir.

Ainda assim, um processo muito importante. Talvez, o mais importante de todos.

Vamos acrescentar uma última variável nessa conversa: Idade.

Para contornar todas as dificuldades inerentes ao processo de construção de crenças, uma variável se torna essencial: Tempo de chão de fábrica.

Já que entender como o mundo funciona é tão difícil, faz sentido que gastar tempo refletindo, construindo argumentos, refutando esses argumentos, encontrando provas ajude a entender melhor as coisas.

“O melhor conselho para os Jovens é: envelheçam” — Nelson Rodrigues

Minha esposa sempre repete com muita delicadeza:

“Quando você é jovem tudo faz sentido porque você é burro.”

Não poderia ser mais preciso.

Dada a complexidade envolvida nesse processo, é natural que, sendo jovens, e, portanto, tendo tido pouco tempo de reflexão sobre diversos aspectos, tomemos decisões e construamos crenças opostas a verdade.


Como mudar de opinião

Para mudar esse cenário, é preciso, antes de tudo, coragem.

A maioria das pessoas passará a vida apegada às mesmas ideias com medo de mudar.

Isso também acontece porque no meio disso tudo uma outra pergunta surgirá. Ao nos questionarmos sobre “O que real” é natural que a pergunta “Quem sou eu” venha a tona.

E nós nos confundimos com o ambiente.

Abrir mão de nossas ideias, muitas vezes significa, literalmente, abrir mão de uma parte de nós mesmos. E isso é doloroso.

Depois, é necessário aprender o básico sobre como o pensamento é construído.

E, por fim, é necessário gastar tempo sincero refletindo sobre as coisas.

É o processo de uma vida.

Como aprender com as gerações passadas para não cometer erros burros

Mas, existe algo que pode acelerar esse processo.

Aprender com os nossos antepassados.

Não existem erros inéditos.

120 bilhões de pessoas já passaram por aqui. Acredite, você dificilmente será tão criativo a ponto de conseguir errar de maneira única.

Aprender com o passado, portando, é estar exposto a uma quantidade de conhecimento incompreensível. Filtrado os autores que resistiram o teste do tempo, conseguimos ter acesso ao que melhor existe de uma geração que já passou e deixou a sua contribuição histórica.

Vamos construir o raciocínio em cima dessa premissa:

O conhecimento escrito é o que há de mais valioso no pensamento de um autor porque para escrever, diferente de falar, você precisa pensar e organizar o conhecimento antes de colocá-lo no papel. E esse processo leva o autor ao seu máximo potencial.

Agora, além disso, é necessário que, para vencer o teste do tempo, esse autor tenha sido reconhecido em vida.

Depois, precisa ter esse conhecimento passado para a próxima geração e reconhecido pela próxima geração.

Assim, sucessivamente, nos levando a poder afirmar que, quanto mais antigo o material, se consumido ainda hoje, mais validade histórica ele possui e, portando, tem algo a nos ensinar.

É exatamente em cima disso que surgiu o conceito de educação clássica (Inclusive, é o método que resolvemos usar para educar os nossos filhos ainda não nascidos), reunir o que há de mais valioso no conhecimento humano e usar como bagagem para não cometer erros desnecessários.

Esse também é a premissa do curso Organização Direcionada. O OD bebe dessa fonte de conhecimento milenar e traz isso, associado as descobertas mais recentes de neurociência, para te ajuda a viver uma vida digna de ser contada.

Se você quiser saber mais sobre o curso, clique aqui.

É por isso que hoje, quando eu escuto alguém dizendo que eu mudo de opinião muito, eu fico feliz. Porque sei que isso é evolução.

Eu acreditava em algo, antes, que era a melhor resposta para um problema baseado na quantidade de informação que eu tinha na época. Com o passar do tempo, sendo exposto a novas informações, uso elas para aprimorar meu raciocínio e me levar a novas conclusões ou fortalecer as conclusões que eu já possuo.

Uma personalidade forte se constrói assim.

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